Há arte e
livros por toda parte, e poucas pessoas freqüentam o Centro Cultural Vergueiro,
localizado no coração de São Paulo, neste domingo. Mas na hora marcada ele está
lá: tranquillo e atencioso, Fabio Lisboa Martins Rosa, junto de uma senhora
muito simpática, Eliana, que além de amiga de Fábio, é também sua parceira na
contação de histórias. Numa afinidade notória, os dois conversam comigo
enquanto separam alguns brinquedos, chocalhos, papéis e se preparam para a
chegada da criançada!
Fábio teve a
infância cheia de sonhos, livros, músicas, brincadeiras dentro e fora de casa e
com amigos, como quase todos, conta que teve tempos difíceis, conflitos em
casa, na escola, até repetiu o ano. Mas as histórias lhe ensinaram que um dia
chega o dia de “viver feliz para sempre” – já sabendo que “sempre” é só modo de
dizer. Entre uma história e outra, ele ensina que o sempre das histórias é o
tempo de aproveitar o “aqui e agora” infantil (que leva as crianças para um
tempo “infinito”, vejam só, o tempo do faz-de-conta – o “infinito” Fábio
gesticula entre aspas, porque dura infinitamente só até a brincadeira
terminar).
Aos 34 anos,
Fabio Lisboa é contador de histórias, professor e palestrante. Ele atua em
projetos de incentivo à leitura, escolas, ONGs e centros de educação ambiental.
Neste
domingo, ele estava no Centro Cultural, para participar de mais uma tarde
contando histórias para crianças, Fábio se mistura as crianças quando está
contando uma história, ele se envolve com elas de forma bastante afetuosa.
Fábio percebeu
sua interação com as palavras quando a professora lhe pedia ler suas redações
em voz alta para o restante da classe. Nesse momento, ainda muito menino,
sentiu que precisava ser mais conciso nas idéias, pois muitas vezes ela lhe
pedia pra ler só um trecho, o que lhe incentivava muito é que numa dessas vezes
um colega pediu o seu caderno emprestado para saber como a história terminaria.
Sentiu-se feliz, “pois pelo menos para uma pessoa acho que o meu texto gerou
curiosidade e vontade de saber mais sobre o tema”, relembra Fabio com
entusiasmo no olhar. Isto continua sendo seu ideal, seja como contador de
histórias, seja como escritor: “provocar no leitor ou ouvinte uma reação, uma
vontade de descoberta”, afirma o educador.
Pais e
filhos escutam atentos a sabedoria contida nos contos narrados por Fábio, e por
sua amiga de histórias Eliana, que entra em cena para narrar uma lenda
francessa, nesse momento, Fábio se esparrama pelo chão, e presta a mesma
atenção que as crianças ao seu lado. Quando lhe pergunto sobre sua relação com
as crianças, Fábio diz “as crianças me inspiram a ser quem eu sou, tenho por
elas fortes sentimentos de alegria, respeito, aprendizado e encantamento, na
escola minha coordenadora me chamava de “encantador de crianças”, mas, na
verdade, o que faço é me deixar encantar pelas crianças, tento ouvi-las, dou
voz aos seus anseios, emoções e histórias e sinto-me feliz por ser portador de
histórias que fascinam as crianças e também afortunado por deixar as crianças
me fascinarem”. Para o contador, e muito bom revisitar a nossa própria
história. Com ela em mente, diz que contemplamos as encruzilhadas por que
passamos e revivemos as nossas escolhas, acertadas ou não, é com elas que traçamos
nossa trajetória de vida. Afirma que nossas escolhas diárias, como, por
exemplo, o que vemos, lemos, consumimos, e plantamos, é com tudo isso que
escrevemos nossa história. Pensar e escrever sobre nossa narrativa pessoal nos
ajuda a decifrar qual o sentido de nossa vida.
O sentido ai, diz respeito não só ao significado, mas ao rumo que nossas
vidas tomam, ensina o jovem professor. “Ao decifrar este sentido, fica mais
fácil saber se estamos caminhando no rumo certo ou na contra-mão de nosso
destino, as histórias me mostram sentidos, caminhos meus, rumos do mundo, para
mim, ler histórias é ler o mundo, ao mesmo tempo, ler histórias é ler a mim
mesmo”.
Sua visão
para o futuro é que tenhamos contadores de história e incentivadores de leitura
fixos em escolas, salas de leitura, bibliotecas, parques, centros culturais. E
que as famílias se dêem conta da importância de dar continuidade ao hábito de
leitura não como obrigação, mas como atividade de lazer, de troca afetiva e de
crescimento pessoal.
Fábio defende
as histórias e no ato de lê-las (gerando mudanças internas) e compartilhá-las
(gerando mudanças externas) como bases para o real entendimento da informação,
como fatores essenciais na formação, e como pilares na construção de um mundo
mais pacífico, mais justo e harmônico.