terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ler histórias, contar histórias, ouvir histórias Reflexão, ação, reação Mudar a mim, mudar o mundo!


Há arte e livros por toda parte, e poucas pessoas freqüentam o Centro Cultural Vergueiro, localizado no coração de São Paulo, neste domingo. Mas na hora marcada ele está lá: tranquillo e atencioso, Fabio Lisboa Martins Rosa, junto de uma senhora muito simpática, Eliana, que além de amiga de Fábio, é também sua parceira na contação de histórias. Numa afinidade notória, os dois conversam comigo enquanto separam alguns brinquedos, chocalhos, papéis e se preparam para a chegada da criançada!
Fábio teve a infância cheia de sonhos, livros, músicas, brincadeiras dentro e fora de casa e com amigos, como quase todos, conta que teve tempos difíceis, conflitos em casa, na escola, até repetiu o ano. Mas as histórias lhe ensinaram que um dia chega o dia de “viver feliz para sempre” – já sabendo que “sempre” é só modo de dizer. Entre uma história e outra, ele ensina que o sempre das histórias é o tempo de aproveitar o “aqui e agora” infantil (que leva as crianças para um tempo “infinito”, vejam só, o tempo do faz-de-conta – o “infinito” Fábio gesticula entre aspas, porque dura infinitamente só até a brincadeira terminar).
Aos 34 anos, Fabio Lisboa é contador de histórias, professor e palestrante. Ele atua em projetos de incentivo à leitura, escolas, ONGs e centros de educação ambiental.
Neste domingo, ele estava no Centro Cultural, para participar de mais uma tarde contando histórias para crianças, Fábio se mistura as crianças quando está contando uma história, ele se envolve com elas de forma bastante afetuosa.
Fábio percebeu sua interação com as palavras quando a professora lhe pedia ler suas redações em voz alta para o restante da classe. Nesse momento, ainda muito menino, sentiu que precisava ser mais conciso nas idéias, pois muitas vezes ela lhe pedia pra ler só um trecho, o que lhe incentivava muito é que numa dessas vezes um colega pediu o seu caderno emprestado para saber como a história terminaria. Sentiu-se feliz, “pois pelo menos para uma pessoa acho que o meu texto gerou curiosidade e vontade de saber mais sobre o tema”, relembra Fabio com entusiasmo no olhar. Isto continua sendo seu ideal, seja como contador de histórias, seja como escritor: “provocar no leitor ou ouvinte uma reação, uma vontade de descoberta”, afirma o educador.    
Pais e filhos escutam atentos a sabedoria contida nos contos narrados por Fábio, e por sua amiga de histórias Eliana, que entra em cena para narrar uma lenda francessa, nesse momento, Fábio se esparrama pelo chão, e presta a mesma atenção que as crianças ao seu lado. Quando lhe pergunto sobre sua relação com as crianças, Fábio diz “as crianças me inspiram a ser quem eu sou, tenho por elas fortes sentimentos de alegria, respeito, aprendizado e encantamento, na escola minha coordenadora me chamava de “encantador de crianças”, mas, na verdade, o que faço é me deixar encantar pelas crianças, tento ouvi-las, dou voz aos seus anseios, emoções e histórias e sinto-me feliz por ser portador de histórias que fascinam as crianças e também afortunado por deixar as crianças me fascinarem”. Para o contador, e muito bom revisitar a nossa própria história. Com ela em mente, diz que contemplamos as encruzilhadas por que passamos e revivemos as nossas escolhas, acertadas ou não, é com elas que traçamos nossa trajetória de vida. Afirma que nossas escolhas diárias, como, por exemplo, o que vemos, lemos, consumimos, e plantamos, é com tudo isso que escrevemos nossa história. Pensar e escrever sobre nossa narrativa pessoal nos ajuda a decifrar qual o sentido de nossa vida.  O sentido ai, diz respeito não só ao significado, mas ao rumo que nossas vidas tomam, ensina o jovem professor. “Ao decifrar este sentido, fica mais fácil saber se estamos caminhando no rumo certo ou na contra-mão de nosso destino, as histórias me mostram sentidos, caminhos meus, rumos do mundo, para mim, ler histórias é ler o mundo, ao mesmo tempo, ler histórias é ler a mim mesmo”.
Sua visão para o futuro é que tenhamos contadores de história e incentivadores de leitura fixos em escolas, salas de leitura, bibliotecas, parques, centros culturais. E que as famílias se dêem conta da importância de dar continuidade ao hábito de leitura não como obrigação, mas como atividade de lazer, de troca afetiva e de crescimento pessoal.
Fábio defende as histórias e no ato de lê-las (gerando mudanças internas) e compartilhá-las (gerando mudanças externas) como bases para o real entendimento da informação, como fatores essenciais na formação, e como pilares na construção de um mundo mais pacífico, mais justo e harmônico.