terça-feira, 3 de agosto de 2010

Exercício de afeto





Entrando na grandiosa loja de vender contos, em busca no setor infantil, de longe vejo um grupo de pessoas, me aproximo perguntando por ele, quando de repente sou surpreendida com um largo sorriso fácil, uma simpatia estampada no olhar, carisma lá no alto, é ele! O meu personagem!
Com seu jeans, tênis all stars vermelho nos pés, estatura mediana e um jeito bem despojado de ser, Paulo Netho mistura canções e muita poesia na poltrona macia das coisas desimportantes, que só saiu coisa nonsense, e é ali que ele se diverte.
-Boa tarde, flor da tarde! Eu faço verso e converso, um pouco com a menininha, com o doutor, com esse rapazinho, com aquela menininha, junto com o cantador: sou rimador de poesia!
E entre trava línguas, brinquedos, ditos populares, começa aquela alegria.
Paulo escreve histórias em livros infantis e também é muito bom em contá-las...
Nesta tarde de um sábado primaveral, é o lançamento de uma coleção de livros que ele escreveu, e ele estava na livraria Saraiva do Shopping Ibirapuera em São Paulo, contando histórias, recitando poesias e comemorando a vida com os amigos, segundo o próprio! Paulo está acompanhado por seu amigo, o Palhaço Meleca (registrado em sua certidão de nascimento como Paulo Henrique Doim), Ricardo Girotto, que é ilustrador, sua esposa e sua filha Gabriela, que herdou o sorriso fácil e o brilho nos olhos de seu pai.
Poucos minutos depois, chega Mirela, Camila e mais cinco crianças, todas com sorrisos gratuitos. Era apenas o início de um fim de tarde delicioso para a criançada, recheado de alegria no coração e boas risadas. Daqueles... Que marcam a história de gentes ávida de vida.

Cativante de carinho

O escritor nasceu em Osasco, município de São Paulo, no dia 07 de setembro de 1964, teve uma infância pobre do ponto de vista econômico, porém, riquíssima, em alegria, amizades e criatividade, o que permanece nele até os dias atuais, visto que, seus leitores o “seguem” em suas diversas apresentações pela cidade.
É o caso de Ediléia Diniz, 34 anos, mãe de Beatriz, 8 anos e Gabriela, de 6 anos. As meninas são fãs de Paulo, e a família está sempre acompanhando as apresentações do contador de histórias, “Paulo é um poeta, ele brinca com as palavras com muito bom humor e faz a todos rir, não importa a idade, acho que voltamos a ser crianças em suas apresentações. Ele nos transporta para o mundo da nossa infância de forma lúdica e divertida, seja por meio das histórias ou do resgate de brinquedos antigos”, relatou a mãe das garotas, que chegaram com presentes em mãos para Paulo, demonstrando assim grande afeto por ele. Quando lhe pergunto sobre sua inspiração para escrever e contar suas histórias:
“Vem de pensar em preparar um presente para as pessoas, e quando vou contar histórias cara a cara com a meninada, entram em cena outros aspectos: o corpo fala você tem que ter consciência de que o seu corpo está a serviço daquilo que você deseja comunicar. Quando escrevo ou conto história permito-me viver um esquecimento total. Sou das palavras, desejo despertar as mais diversas sensações em meus leitores e ouvintes”, responde Paulo.
Entre tantas crianças, havia também um garotinho, de apelido Pitoco, que viera de Santos, somente para prestigiar Paulo, e também um grupo da Escola Lua Encantada, do bairro da Vila Mariana, uma das escolas em que Paulo se apresenta e que sempre que possível acompanha o escritor.
Netho conta que começou a ser despertado para o fascínio das palavras quando ainda era bem criança, “No quintal em que morava havia muitas crianças e nas brincadeiras de roda as palavras pousaram em mim pela primeira vez. Além disso, a minha mãe é a grande responsável por tudo isso. As histórias fantasiosas, que contava pra mim, e os meus irmãos, de certa forma, corroboraram para eu me tornar um sujeito assim, que adora o mundo das coisas inventadas”.
Paulo construía seus próprios brinquedos, conta que pés de frutas viravam naves espaciais. As pipas conversavam com as nuvens e passarinhos e os olhos de Paulo viviam sempre grudados no telhado das coisas desimportantes dessa vida.
Ele já foi vendedor de cachorro-quente, de camisetas, garçom, teve programa de rádio para crianças e escreveu em jornal. Escreve histórias e recita poesias desde a adolescência. Hoje trabalha com Salatiel Silva há 12 anos e, juntos, formam o grupo Balaio de Dois, que num clima intimista, encantaram pais, filhos e as crianças de todas as idades, que lotaram o setor infantil daquela livraria do shopping.
Quando criança, Paulo não tinha livros. Sua mãe foi o grande fomento imaginativo que teve. Na escola, descobriu Monteiro Lobato e declara que sem dúvida nenhuma As Reinações de Narizinho, pela genialidade desse autor, bem como toda a obra dele desde cedo fizeram morada dentro do seu coração. Para Paulo, Lobato é uma das riquezas da cultura nacional.
As crianças, em sua maioria sentada na primeira fileira do chão, transbordavam entusiasmo e alegria. Riam pela simplicidade do momento e com um brilho especial em cada olhar, enquanto olhavam os livros de Paulo, que diz que irá até as últimas conseqüências para jogar com as pessoas o jogo das delicadezas, dos afetos e dos carinhos. Ele sabe que as pessoas gostam disso e ele também, e ressalta que aí se cria uma simbiose de prazer, respeito e alegria.
Não a toa que antes de sua apresentação ele recebia um "OIÊÊÊ!!!!" estridente, e alto, acompanhado de um sorriso largo ou um beijo estalado, e assim ele ganhou, por alguns segundos, um dos melhores momentos da vida, mesmo que muitos ainda não tenham percebido.
O escritor também defende a idéia de que a leitura modifica as pessoas, para ele, ninguém sai de um livro como entrou.
Meu personagem escreve para completar as coisas que lhe faltam, se não nos livros, escreve em seu blog (caradepavio.blogspot.com) sempre atualizado por ele, onde posta histórias, poesias, fotos de apresentações e sua agenda, criando assim uma proximidade maior entre seus amigos leitores.
Paulo, além de se apresentar em livrarias e diversos centros culturais espalhados pela cidade, também se apresenta em escolas, e diz que o papel das delas é fundamental para o fomento da leitura, mas não só as escolas. Este papel cabe às famílias também.
A influência de Netho tem forte peso nas crianças, segundo Julia, 07 anos “Amo ler e ouvir histórias, porque parece que estamos dentro da historia, eu vivo lá dentro”.
Enquanto Paulo Netho contava suas histórias, sua voz diferenciada resgatou a criança existente na maioria dos presentes, sendo eles os pais ou os filhos, e quem esteve naquela sala colorida, que tinham prateleiras recheadas de livros até o teto, teve diversão garantida.


Conheça mais sobre o trabalho dele: http://caradepavio.blogspot.com

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